O NATAL DE CRISTO É O INVERSO DE VERSOS
ESMAECIDOS
Entramos no mês de dezembro e o ocidente cristão
celebra sua maior festa: o Natal. Ensejando a ocasião, proponho-me tecer
algumas reflexões pertinentes à época. Para tanto, recorro a um romance que, ao
meu ver, apresenta o nascimento de Cristo como prenúncio de novos tempos.
Em seu romance “O mártir do Gólgota”,
Henrique Perez Escrich fala-nos de uma personagem da mitologia grega, conhecida
como a Sibila de Cuma, que desce até o Hades para dar uma notícia ao censor
Ápio Claudio Crasso.
Esta Sibila trajava uma túnica preta e uma
coroa de folhas secas cingia-lhe a fronte. Portava um bordão de haste metálica,
em cujo extremo havia um ornato formado de cinco cabecinhas de víboras.
Caminhava descalça e parecia muito fatigada. Ela então se deteve por um momento
e sentou-se sobre o túmulo de Ápio, dirigindo-lhe as seguintes palavras: “Têmis
ordenou às suas filhas que reúnam por alguns dias o fio da minha vida, pois que
trago a última mensagem do Oráculo de Delfos do divino Apolo que já não
responde às perguntas que lhe são dirigidas. Os deuses estremecem e tombam dos
pedestais, fugindo precipitadamente para a caverna de Plutão, onde haverão de
chorar eternamente a sua impotência. O Titão do Cáucaso, o divino ladrão, o
soberbo Prometeu quebrou suas cadeias e viu morrer sobre o peito ensangüentado
o corvo insaciável; Júpiter, rei dos deuses e dos homens, vacila em seu trono
de marfim: caiu-lhe o cetro das mãos e os raios queimaram-lhe a fronte. Minerva
fechou o livro da sabedoria. Vesta, com terror, viu extinguir-se o fogo
sagrado. Partiu-se em três o escudo de Palas. A coroa de espigas da frutífera
Ceres secou-se-lhe na fronte. Vênus, filha do amor e da beleza, chora a
ingratidão de Eros. Diana percorre os bosques desolada porque suas flechas são
impotentes contra os cervos. Mercúrio perdeu as asas e caiu-lhe a bolsa que
trazia na mão. Marte sentiu temor no coração. A bela cabeleira de Apolo
encaneceu numa noite apenas; sua famosa lira cessou de vibrar, e as nove Musas,
filhas de Júpiter e de Mnemósina, choram amargamente, percorrendo os montes do
Pireu, de Helicon e do Parnaso”.
Nisto, a voz do túmulo exclamou: “Basta,
basta, fantasma evocado pelo Averno, espírito infernal que vens perturbar, com
as tuas palavras, o tranqüilo sono da morte. Vai-te: deixa-me repousar em paz
no seio deste frio mármore que encerra as minhas cinzas, e não queiras
pintar-me a ruína dos deuses do Olimpo”.
Nisto a Sibila falou-lhe: “Dorme em paz,
Ápio; mas se a tua alma vaga errante nas regiões do desconhecido em busca em
busca de um perdão que não te podem conceder os deuses pagãos, dirige-a para
Israel, a terra prometida, onde nasceu o verdadeiro Deus, o salvador do mundo,
o Messias, anunciado pelos Profetas”.
“E que nome tem esse Deus?”, indagou Ápio. No
que a Sibila respondeu-lhe: “Chama-se Jesus; será o Redentor do mundo”.
De fato, hoje não mais frequentamos o panteão
dos deuses gregos, para ali depositarmos nossas oferendas. Contudo, cada época
insiste em criar seu próprio templo, lugar em que eleva suas divindades. Nossa época
presenciou a apoteose da técnica, da ciência e do capital. Contudo, é
desnecessário dizer que não encontramos neles nossa redenção. Entretanto,
faz-se desnecessário elencarmos as evidências que acentuam esta verdade. De sorte
que, por mais conflitante que isto pareça, Deus ainda pretende encontrar-se
conosco no fundo escuro e roto daquela manjedoura. É dali que brota a vida que
inverte a nossa lógica, e já desnuda o advento de uma novidade que é, em
quaisquer tempos, o desarranjo de um mundo cansado de seus próprios protótipos.
Graça e Paz a todos
Pr. Luis Claudio
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