domingo, 2 de dezembro de 2012


O NATAL DE CRISTO É O INVERSO DE VERSOS ESMAECIDOS

Entramos no mês de dezembro e o ocidente cristão celebra sua maior festa: o Natal. Ensejando a ocasião, proponho-me tecer algumas reflexões pertinentes à época. Para tanto, recorro a um romance que, ao meu ver, apresenta o nascimento de Cristo como prenúncio de novos tempos.

Em seu romance “O mártir do Gólgota”, Henrique Perez Escrich fala-nos de uma personagem da mitologia grega, conhecida como a Sibila de Cuma, que desce até o Hades para dar uma notícia ao censor Ápio Claudio Crasso.

Esta Sibila trajava uma túnica preta e uma coroa de folhas secas cingia-lhe a fronte. Portava um bordão de haste metálica, em cujo extremo havia um ornato formado de cinco cabecinhas de víboras. Caminhava descalça e parecia muito fatigada. Ela então se deteve por um momento e sentou-se sobre o túmulo de Ápio, dirigindo-lhe as seguintes palavras: “Têmis ordenou às suas filhas que reúnam por alguns dias o fio da minha vida, pois que trago a última mensagem do Oráculo de Delfos do divino Apolo que já não responde às perguntas que lhe são dirigidas. Os deuses estremecem e tombam dos pedestais, fugindo precipitadamente para a caverna de Plutão, onde haverão de chorar eternamente a sua impotência. O Titão do Cáucaso, o divino ladrão, o soberbo Prometeu quebrou suas cadeias e viu morrer sobre o peito ensangüentado o corvo insaciável; Júpiter, rei dos deuses e dos homens, vacila em seu trono de marfim: caiu-lhe o cetro das mãos e os raios queimaram-lhe a fronte. Minerva fechou o livro da sabedoria. Vesta, com terror, viu extinguir-se o fogo sagrado. Partiu-se em três o escudo de Palas. A coroa de espigas da frutífera Ceres secou-se-lhe na fronte. Vênus, filha do amor e da beleza, chora a ingratidão de Eros. Diana percorre os bosques desolada porque suas flechas são impotentes contra os cervos. Mercúrio perdeu as asas e caiu-lhe a bolsa que trazia na mão. Marte sentiu temor no coração. A bela cabeleira de Apolo encaneceu numa noite apenas; sua famosa lira cessou de vibrar, e as nove Musas, filhas de Júpiter e de Mnemósina, choram amargamente, percorrendo os montes do Pireu, de Helicon e do Parnaso”.

Nisto, a voz do túmulo exclamou: “Basta, basta, fantasma evocado pelo Averno, espírito infernal que vens perturbar, com as tuas palavras, o tranqüilo sono da morte. Vai-te: deixa-me repousar em paz no seio deste frio mármore que encerra as minhas cinzas, e não queiras pintar-me a ruína dos deuses do Olimpo”.

Nisto a Sibila falou-lhe: “Dorme em paz, Ápio; mas se a tua alma vaga errante nas regiões do desconhecido em busca em busca de um perdão que não te podem conceder os deuses pagãos, dirige-a para Israel, a terra prometida, onde nasceu o verdadeiro Deus, o salvador do mundo, o Messias, anunciado pelos Profetas”.

“E que nome tem esse Deus?”, indagou Ápio. No que a Sibila respondeu-lhe: “Chama-se Jesus; será o Redentor do mundo”.   

De fato, hoje não mais frequentamos o panteão dos deuses gregos, para ali depositarmos nossas oferendas. Contudo, cada época insiste em criar seu próprio templo, lugar em que eleva suas divindades. Nossa época presenciou a apoteose da técnica, da ciência e do capital. Contudo, é desnecessário dizer que não encontramos neles nossa redenção. Entretanto, faz-se desnecessário elencarmos as evidências que acentuam esta verdade. De sorte que, por mais conflitante que isto pareça, Deus ainda pretende encontrar-se conosco no fundo escuro e roto daquela manjedoura. É dali que brota a vida que inverte a nossa lógica, e já desnuda o advento de uma novidade que é, em quaisquer tempos, o desarranjo de um mundo cansado de seus próprios protótipos.

 

Graça e Paz a todos

Pr. Luis Claudio                 

 

 

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