OS
PASTORES DE BELÉM VISITAM O MENINO JESUS
Dentre
os evangelhos chamados canônicos, apenas Mateus e Lucas dedicaram algumas
páginas com narrativas sobre a infância de Jesus. Entre ambos, podemos
destacar, ao menos aqui, um contraste quanto ao ambiente em que se deu o
nascimento de Cristo. Se por um lado Mateus apresenta-nos uma atmosfera mais
densa como fundo ao advento, coube à pena lucana pintar a natividade com cores
vivazes, em tons festivos. Porém, não apenas o cenário é contrastante entre
ambos os autores, mas também certas personagens que acentuam a perspectiva que
cada evangelista pretende dar ao episódio. Assim, se em Mateus o menino Jesus
recebe a visita de magos, na narrativa lucana serão os pastores convidados a
prestar tais honras.
Diz-nos
Lucas que, logo após o nascimento de Cristo, uma miríade de anjos apareceu a
pastores que guardavam seus rebanhos. Não sabemos precisar quantos pastores
havia ali, embora, em sua “Natividade”, Giotto tenha pintado dois pastores
apenas. Avisados sobre o nascimento do Salvador, aquelas personagens deixaram
de pastorejar e, céleres, aligeiraram seus pés rumo à manjedoura.
Não
são poucas as razões que o texto oferece-nos à reflexão. Dele já podemos
divisar o caráter inclusivo do amor de Deus entrançado na textura frágil
daquele menino. Ainda que celebrados na literatura do Antigo Nascimento, numa
via sociológica os pastores eram figuras desdenhadas pelas classes judaicas
mais abastadas.
Ainda
sobre o anúncio, é digno de nota recordarmos que os pastores são provados em
sua fé, já que nada além de um menino esperam encontrar em Belém. Não correm
para a manjedoura a fim de encontrar um político poderoso ou uma figura
taumatúrgica. Acorrem para aquela estrebaria apenas para verem uma criança. Cena
tão contrastante com a que estamos habituados a ver em nossos templos. Igrejas
apinhadas de pessoas que, certamente, não se interessariam em ver apenas um
menino. Querem muito mais que isto; assim projetam na figura de Deus a imagem
do advogado, médico, banqueiro, curandeiro etc.
Não careceríamos
de profundo exercício intelectual para prevermos a reação desses auditórios, se
soubessem que nada mais encontrariam no templo que um menino envolto em panos
rotos. Contudo, Deus acentua com isto toda sua grandeza, já que é capaz de
encerrar sua magnificência na compleição frágil de um bebê. Diante de gesto tão
nobre, o poeta John Donne não poupa sua verve e exclama diante da “imensidão
enclausurada” no ventre de Maria.
Graça
e paz a todos.
Pr
Luis Claudio
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