quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


OS PASTORES DE BELÉM VISITAM O MENINO JESUS

Dentre os evangelhos chamados canônicos, apenas Mateus e Lucas dedicaram algumas páginas com narrativas sobre a infância de Jesus. Entre ambos, podemos destacar, ao menos aqui, um contraste quanto ao ambiente em que se deu o nascimento de Cristo. Se por um lado Mateus apresenta-nos uma atmosfera mais densa como fundo ao advento, coube à pena lucana pintar a natividade com cores vivazes, em tons festivos. Porém, não apenas o cenário é contrastante entre ambos os autores, mas também certas personagens que acentuam a perspectiva que cada evangelista pretende dar ao episódio. Assim, se em Mateus o menino Jesus recebe a visita de magos, na narrativa lucana serão os pastores convidados a prestar tais honras.

Diz-nos Lucas que, logo após o nascimento de Cristo, uma miríade de anjos apareceu a pastores que guardavam seus rebanhos. Não sabemos precisar quantos pastores havia ali, embora, em sua “Natividade”, Giotto tenha pintado dois pastores apenas. Avisados sobre o nascimento do Salvador, aquelas personagens deixaram de pastorejar e, céleres, aligeiraram seus pés rumo à manjedoura.

Não são poucas as razões que o texto oferece-nos à reflexão. Dele já podemos divisar o caráter inclusivo do amor de Deus entrançado na textura frágil daquele menino. Ainda que celebrados na literatura do Antigo Nascimento, numa via sociológica os pastores eram figuras desdenhadas pelas classes judaicas mais abastadas.       

Ainda sobre o anúncio, é digno de nota recordarmos que os pastores são provados em sua fé, já que nada além de um menino esperam encontrar em Belém. Não correm para a manjedoura a fim de encontrar um político poderoso ou uma figura taumatúrgica. Acorrem para aquela estrebaria apenas para verem uma criança. Cena tão contrastante com a que estamos habituados a ver em nossos templos. Igrejas apinhadas de pessoas que, certamente, não se interessariam em ver apenas um menino. Querem muito mais que isto; assim projetam na figura de Deus a imagem do advogado, médico, banqueiro, curandeiro etc.     

Não careceríamos de profundo exercício intelectual para prevermos a reação desses auditórios, se soubessem que nada mais encontrariam no templo que um menino envolto em panos rotos. Contudo, Deus acentua com isto toda sua grandeza, já que é capaz de encerrar sua magnificência na compleição frágil de um bebê. Diante de gesto tão nobre, o poeta John Donne não poupa sua verve e exclama diante da “imensidão enclausurada” no ventre de Maria.

Graça e paz a todos.  

Pr Luis Claudio

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