segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


                                    ÀQUELES QUE FORAM OS PRIMEIROS MÁRTIRES

É mais que sabido que ao longo da história do cristianismo muitos homens e mulheres, por conta de sua fé, derramaram seu sangue por Cristo. Contudo, ainda que não ocupem esta galeria ao lado das figuras mais representativas deste cristianismo construído com sangue e suor, não devemos esquecer os meninos de Belém.

Sabemos por meio da pena do evangelista Mateus que Herodes Magno, empenhado em tirar a vida do menino Jesus, promove um brutal infanticídio na cidade de Belém. Incapaz de identificar o menino Jesus, nascido sob os auspícios do messianismo, o que poderia pôr fim ao seu reinado, Herodes não hesita. Então, movido por sua obsessão pelo poder, o governador da Judéia, num ato de pura insanidade, mandou sua soldadesca degolar todos os meninos belemitas com menos de dois anos. Inglório fora seu esforço, já que Cristo e seus pais encontravam-se refugiados no Egito (Mt 2.13-18).   

Chamou-me a atenção este texto pela perspectiva de reflexão que o nascimento de Cristo já nos oferece. Ora, parece tão incoerente versar sobre este assunto num período em que os homens se ocupam com tantas outras questões. A impressão que temos é que, em época natalina, somos arrebatados por um frenesi alienante. Não pensamos nada mais que festas, viagens e compras. Tais coisas possuem sua importância e valor, porém devem ocupar um segundo plano no tempo natalino.

Assim sendo, considerando a narrativa em questão, no Natal Cristo nos convida a olhar com ternura a infância que por razões as mais diversas pode se perder. Não podemos negar que ao longo do tempo a figura herodiana tem assumido as mais diferentes formas.

Em certos momentos, ela vinha representada por meio de um sistema político que concorria contra tudo aquilo que é natural à puerícia infantil. Pensemos então nos estados totalitários que, em nome das “razões do Estado”, submetem suas crianças a uma disciplina ideológica castradora. Isto para não falarmos dos clãs de guerrilhas que, em nome de sua causa, não hesitam em alistar crianças dando-lhes fuzis no lugar de bolas de futebol e bonecas.

Porém, não apenas o Estado carrega esta nódoa culposa contra si. A crítica aqui ainda é cabível à família e à sociedade. Pais que praticamente abandonam seus filhos à própria sorte, transferindo para a escola, instituições filantrópicas e o Estado uma responsabilidade que é apenas sua. Careceríamos ainda tempo e espaço para discorrermos questões relacionadas ao aborto, abandono de incapaz e homicídio doloso que genitores cometem contra seus rebentos.

Mas não poderíamos isentar a Igreja de suas responsabilidades. Esta dispõe de recursos humanos e materiais, mas permanece indiferente à formação integral de seus pequenos frequentadores. Quando não, nada mais que lhes transmitir alguns princípios e valores de natureza moral e cristã. E isto ocorre por conta do sacerdócio de professores cristãos que, quase que em sua maioria, não possuem formação apropriada para isto recorrendo apenas a seu esforço e boa vontade.

Por muitas vezes lamentei o desperdício de recursos humanos que temos, mas que não sabemos aproveitar. Quantos psicólogos, pedagogos, advogados, médicos dentre outros, ocupam os bancos de nossas igrejas sem nos valermos de seus dons e instrumentos. Pois bem, não fosse nossa indiferença em relação a esta nobre causa, nossas crianças poderiam receber da Igreja boa orientação cívica, sexual, ética além da cristã, obviamente.       

Sobre aqueles primeiros mártires em Belém, Agostinho versejou: “Flores dos mártires que se fecharam para sempre no seio frio da infidelidade”. Contudo, este “seio frio da infidelidade” parece insaciável nesse seu afã voraz contra nossos pequeninos.

 

 

Graça e Paz a todos

Pr Luis Claudio

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