terça-feira, 27 de novembro de 2012


SENDO DEUS NÃO REJEITOU TAMBÉM SER FILHO DE JOSÉ (Jo 1.45-51)

 

O texto que ora lemos narra o encontro que Cristo teve com Natanael. Ao menos nesta hora, chama-nos a atenção a maneira irônica com a qual Natanael acolhe a boa nova que Felipe lhe traz. Este, tomado por vivaz descoberta, diz àquele ter encontrado a razão da esperança judaica, qual seja, o Cristo. Cético, Natanael lhe moteja: “De Nazaré pode sair algo de bom?” (Jo 1.46).

Havia na apresentação de Felipe alguns pressupostos que fizeram Natanael desacreditar da veracidade de sua notícia. Ora, Cristo é aqui pintado como nazareno e filho de José. De fato, Nazaré não passava de um vilarejo empobrecido, que sequer se encontrava nos mapas de então. O nome de seu pai, José, pareceu-lhe tão comum que pouca importância lhe mereceu. Não restou a Natanael outra coisa senão um olhar determinista a tudo aquilo que ouvira.

A reação deste homem é própria daqueles que se limitam às circunstâncias. Para estes a pobreza e a miséria são como terra estéril, chão infecundo onde nada mais viceja.  Sua forma limitada de ver a vida faz-lhes pensar que alguns homens nasceram sob o signo da fatalidade, e que de uma condição de penúria e adversidade outra sorte não está lhes reservada.  

Que grandeza contemplamos em Deus, capaz de prover-nos do maravilhoso em meio às circunstâncias mais desfavoráveis. Faltou a Natanael a sensibilidade quanto ao admirável, a certeza de que a vida é tão grande que não podemos contê-la na bitola de nossas superstições ou preconceitos. O coração de um ensoberbecido não consegue dilatar-se para alcançar toda grandeza da vida.        

Homens como Natanael desconfiam que da pena de homem errante, quase que a viver na mendicância, como Camões, possa brotar a maior riqueza da épica portuguesa. Quem olhasse para Miguel de Cervantes trabalhando como criado para jovens ricos, na Universidade de Salamanca, jamais suspeitaria estar diante do maior escritor que a língua espanhola conheceu. Os professores do Conservatório de Milão rejeitaram o jovem Verdi, não vendo nele mais que um mancebo desajeitado diante de um teclado. Anos depois, não apenas por reparar tal injustiça, mas reconhecendo a genialidade do músico, aqueles docentes deram à academia de Milão o nome de Conservatório Verdi. Falta-me tempo e espaço para recorrer a tantos outros exemplos semelhantes.        

Disso decorre que o gesto sobranceiro de Natanael encerra aquele olhar esvaído de esperança, que desacredita da grandeza do homem, de Deus. Nele apercebemos o próprio inferno antecipado em vida, pois nada mais esperam os que para lá descem. Faz-nos lembrar a recomendação no frontispício do Inferno, que Dante Alighieri teceu em sua Divina Comédia: “Deixai aqui todas as esperanças, ó vós que entrais”.

Cristo não vinha de Nazaré, simplesmente passara por lá, já que sua origem era o Céu. Entretanto, não lhe ofende ser chamado de nazareno ou filho de José, já que títulos assim não o apequenam. Apequenada é a alma medíocre, a quem a história e Deus não se cansam de oferecer grandes lições.     

 

Graça e paz a todos.

Pr. Luis Claudio

 

 

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