quarta-feira, 21 de novembro de 2012


DORMINDO COMO UM HOMEM, DESPERTANDO COMO DEUS (Mc 4.35-41)

Após um dia intenso, não é de se espantar que Cristo poste-se em um recanto do barco e durma. A caminho da região dos gerasenos, ele aproveita o intervalo e dorme. Neste entreposto, uma tempestade aventa soçobrar o barco em que estava juntamente com seus discípulos. Estes, convencidos agora que seria inglória sua luta para que a nau não naufragasse, protestam quanto a aparente indiferença de Cristo ao fim fatídico que se desenha. Cristo então desperta de seu sono e faz com que o mar retome sua bonança.

Uma ou outra vez somos tentados a comparar o curso de nossas vidas àquela nau açoitada pelas mais diversas intempéries. E nesses momentos, parece-me ainda que o vejo dormir na proa da barqueta, o que me inquieta profundamente.

Tal inquietação leva-me a supor que ele pouca conta faz das borrascas que me machucam. Diante de seu sono percebo o quanto estou sujeito à tentação. Logo o renuncio com palavras, e não vejo melhor caminho senão concordar com aqueles que defendem sua inexistência.  

Porém, antes que me domine este sentimento a absoluta descrença, evoca a última expressão da piedade: a oração. A oração é o brado de desespero daquele que se vê diante do nada. Mas também o ponto em que se ligam o finito e o infinito, o eterno e o temporal, o relativo e o absoluto.   

Sozinhos no barco toda vida seria uma construção vã, uma luta inglória diante daquilo que é maior que nós. Dormindo no barco, Cristo não está imerso em nossos labores, mas sintonizado com nossas expressões espirituais mais elevadas.

Assim sendo, se reduzo minha vida àquela embarcação, convenço-me da realidade das intempéries. E assusto em imaginar que não lhe incomoda o estridor do trovão, o bramido da chuva e o fragor das ondas. Talvez porque sua audição consiga estender-se a acordes celestiais, quando nada mais conseguimos ouvir senão o caos que nos acerca. Entretanto, por graça infinita, Cristo se deixa ser afetado pelo palpitar de nosso coração aflito e o brado de uma alma em desespero. O que segue daí é a bonança que contrasta com um possível final trágico, se Cristo não estivesse em nosso barco.

Graça e paz a todos.

Pr. Claudio

 

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