O
EVANGELHO DOS MARQUETEIROS
Recentemente
assisti ao filme Mera Coincidência, obra que nos oferece matéria interessante
para reflexão. O enredo versa sobre um escândalo sexual envolvendo o presidente
norte-americano às vésperas das eleições. Uma vez que o episódio poderia
comprometer sua reeleição, a equipe presidencial logo trata de contornar ação
indecorosa protagonizada pelo chefe maior estadunidense.
Para
tanto, Conrad Brean (Robert de Niro), responsável pela imagem do governo,
recorre ao produtor hollywoodiano Stanley Motss (Dustin Hoffman). Este então
não encontra outro recurso para sanar a crise senão a invenção de um espetáculo
que, à medida que desvia a atenção do eleitorado, sobrepõe outra imagem ao
governo.
A
retórica do espetáculo adotada pela equipe presidencial mostra-nos o quanto que
as informações são manipuladas em detrimento da verdade. Mas seria ingenuidade
nossa julgar que isto ocorre apenas nos bastidores da política. Além de outros
segmentos, há claramente um uso apelativo da imagem no meio evangélico,
principalmente no ciclo neo-pentecostal.
Catedrais
imponentes são apresentadas em programas televisivos, no esforço de sobrepor a
grandiosidade material à mediocridade do discurso. O testemunho de um suposto
milagre explorado à sorrelfa. Uma auto-piedade sempre afirmativa, como
tentativa de negar fatos que denunciam a índole duvidosa de determinados
líderes religiosos. A sublimação da instituição que se projeta para além da
crítica; contrastante com denúncias do Ministério Público e inquéritos da
Polícia Federal que não passam, na defesa inconstante da cúpula acusada, de
perseguição diabólica. Líderes que não mais dialogam com Deus, porque
recorreram aos gurus do empreendimento e do discurso motivacional e, até aqui,
“o negócio da fé” tem dado certo.
Apelamos
para que o cristianismo no Brasil abandone “essa liturgia em 3D”, que não mais
causa à alma sulcos de espiritualidade profunda, mas que acentua nosso
desencanto niilista.
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