domingo, 18 de novembro de 2012


O EVANGELHO DOS MARQUETEIROS

Recentemente assisti ao filme Mera Coincidência, obra que nos oferece matéria interessante para reflexão. O enredo versa sobre um escândalo sexual envolvendo o presidente norte-americano às vésperas das eleições. Uma vez que o episódio poderia comprometer sua reeleição, a equipe presidencial logo trata de contornar ação indecorosa protagonizada pelo chefe maior estadunidense.

Para tanto, Conrad Brean (Robert de Niro), responsável pela imagem do governo, recorre ao produtor hollywoodiano Stanley Motss (Dustin Hoffman). Este então não encontra outro recurso para sanar a crise senão a invenção de um espetáculo que, à medida que desvia a atenção do eleitorado, sobrepõe outra imagem ao governo.

A retórica do espetáculo adotada pela equipe presidencial mostra-nos o quanto que as informações são manipuladas em detrimento da verdade. Mas seria ingenuidade nossa julgar que isto ocorre apenas nos bastidores da política. Além de outros segmentos, há claramente um uso apelativo da imagem no meio evangélico, principalmente no ciclo neo-pentecostal.

Catedrais imponentes são apresentadas em programas televisivos, no esforço de sobrepor a grandiosidade material à mediocridade do discurso. O testemunho de um suposto milagre explorado à sorrelfa. Uma auto-piedade sempre afirmativa, como tentativa de negar fatos que denunciam a índole duvidosa de determinados líderes religiosos. A sublimação da instituição que se projeta para além da crítica; contrastante com denúncias do Ministério Público e inquéritos da Polícia Federal que não passam, na defesa inconstante da cúpula acusada, de perseguição diabólica. Líderes que não mais dialogam com Deus, porque recorreram aos gurus do empreendimento e do discurso motivacional e, até aqui, “o negócio da fé” tem dado certo.

Apelamos para que o cristianismo no Brasil abandone “essa liturgia em 3D”, que não mais causa à alma sulcos de espiritualidade profunda, mas que acentua nosso desencanto niilista.                  

 

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