ÀQUELES QUE FORAM OS PRIMEIROS MÁRTIRES
É mais que sabido que ao longo da história do
cristianismo muitos homens e mulheres, por conta de sua fé, derramaram seu
sangue por Cristo. Contudo, ainda que não ocupem esta galeria ao lado das
figuras mais representativas deste cristianismo construído com sangue e suor,
não devemos esquecer os meninos de Belém.
Sabemos por meio da pena do evangelista
Mateus que Herodes Magno, empenhado em tirar a vida do menino Jesus, promove um
brutal infanticídio na cidade de Belém. Incapaz de identificar o menino Jesus,
nascido sob os auspícios do messianismo, o que poderia pôr fim ao seu reinado,
Herodes não hesita. Então, movido por sua obsessão pelo poder, o governador da
Judéia, num ato de pura insanidade, mandou sua soldadesca degolar todos os
meninos belemitas com menos de dois anos. Inglório fora seu esforço, já que
Cristo e seus pais encontravam-se refugiados no Egito (Mt 2.13-18).
Chamou-me a atenção este texto pela
perspectiva de reflexão que o nascimento de Cristo já nos oferece. Ora, parece
tão incoerente versar sobre este assunto num período em que os homens se ocupam
com tantas outras questões. A impressão que temos é que, em época natalina,
somos arrebatados por um frenesi alienante. Não pensamos nada mais que festas,
viagens e compras. Tais coisas possuem sua importância e valor, porém devem
ocupar um segundo plano no tempo natalino.
Assim sendo, considerando a narrativa em
questão, no Natal Cristo nos convida a olhar com ternura a infância que por
razões as mais diversas pode se perder. Não podemos negar que ao longo do tempo
a figura herodiana tem assumido as mais diferentes formas.
Em certos momentos, ela vinha representada por
meio de um sistema político que concorria contra tudo aquilo que é natural à
puerícia infantil. Pensemos então nos estados totalitários que, em nome das
“razões do Estado”, submetem suas crianças a uma disciplina ideológica
castradora. Isto para não falarmos dos clãs de guerrilhas que, em nome de sua
causa, não hesitam em alistar crianças dando-lhes fuzis no lugar de bolas de
futebol e bonecas.
Porém, não apenas o Estado carrega esta nódoa
culposa contra si. A crítica aqui ainda é cabível à família e à sociedade. Pais
que praticamente abandonam seus filhos à própria sorte, transferindo para a
escola, instituições filantrópicas e o Estado uma responsabilidade que é apenas
sua. Careceríamos ainda tempo e espaço para discorrermos questões relacionadas
ao aborto, abandono de incapaz e homicídio doloso que genitores cometem contra
seus rebentos.
Mas não poderíamos isentar a Igreja de suas
responsabilidades. Esta dispõe de recursos humanos e materiais, mas permanece
indiferente à formação integral de seus pequenos frequentadores. Quando não,
nada mais que lhes transmitir alguns princípios e valores de natureza moral e
cristã. E isto ocorre por conta do sacerdócio de professores cristãos que,
quase que em sua maioria, não possuem formação apropriada para isto recorrendo
apenas a seu esforço e boa vontade.
Por muitas vezes lamentei o desperdício de
recursos humanos que temos, mas que não sabemos aproveitar. Quantos psicólogos,
pedagogos, advogados, médicos dentre outros, ocupam os bancos de nossas igrejas
sem nos valermos de seus dons e instrumentos. Pois bem, não fosse nossa
indiferença em relação a esta nobre causa, nossas crianças poderiam receber da
Igreja boa orientação cívica, sexual, ética além da cristã, obviamente.
Sobre aqueles primeiros mártires em Belém,
Agostinho versejou: “Flores dos mártires que se fecharam para sempre no seio
frio da infidelidade”. Contudo, este “seio frio da infidelidade” parece
insaciável nesse seu afã voraz contra nossos pequeninos.
Graça e Paz a todos
Pr Luis Claudio