GESTOS AUTENTICAMENTE
CRISTÃOS EM MEIO A UM CRISTIANISMO TÃO INAUTÊNTICO
No início do mês passado,
noticiários do mundo inteiro veiculavam mais uma nota acerca do papa Francisco.
Dessa vez chamou a atenção da mídia uma carona que o papa deu, em seu passeio
pela Praça de São Pedro, no Vaticano, a um amigo argentino. Ao reconhecer na
multidão seu colega e também padre, o pontífice logo lhe convidou a subir no
papamóvel e acompanhar-lhe em seu trajeto. O gesto foi ovacionado pelas mídias
ligadas à Santa Sé, mas também por outras que não possuem ligação direta com o
Vaticano.
O que chamou minha atenção
acerca deste noticiário foi o relevo que se dá a um gesto tão simples e
singelo. Ora, oferecer uma carona a um amigo não me parece um gesto de nobreza
tão surpreendente assim. Quantos de nós já não fizemos isto?
Contudo, isto foi feito por
um papa, um suposto representante de Cristo aqui na Terra. Diante de todo o
burburinho em torno do episódio, logo me dei conta do quanto nosso cristianismo
está empobrecido. O mundo aclama e surpreende-se diante de um gesto que acena
para um líder religioso próximo do povo, tangível. Mas Cristo não era assim? E
os apóstolos? Não me recordo ter lido nas Escrituras que eles andavam acercados
de segurança e proteção das forças armadas. Muito pelo contrário.
Pois bem, enquanto que a
carona que um papa ofereceu a um amigo enche de alegria o coração de muitos,
minha alma esvai-se em tristeza e lamento. Isto porque o gesto em apreço nos
mostra o quanto estamos distantes de um cristianismo autêntico. Ficamos
embasbacados diante de um líder religioso que oferece carona a um amigo em seu
automóvel oficial. Esquecemos que o Cristo sequer possuía um meio de transporte
próprio. Ele navegava num barco que não era seu e um jumentinho que não lhe
pertencia; e, mesmo na morte, sua família teve que contar com uma sepultura
cedida por José de Arimatéia.
Devemos repensar
radicalmente nossa fé diante de um mundo que se surpreende em ver num cristão o
mínimo que se espera de um amigo. Se o mundo se espanta com uma singela carona,
é porque ele mesmo está saturado de olhar para a cristandade e não ver mais que
uma mediocridade religiosamente pobre, desdourada.
Minha intenção aqui não se
procura censurar o gesto do papa Francisco. Até reconheço ser louvável sua atitude.
O que me incomoda, volto a dizer, é a ovação em torno de um gesto afável, como
se isto não mais pertencesse ao nosso universo cristão. E, lamentavelmente,
faço coro com aqueles que admiram num aceno isolado e particular de boa prática
cristã, quando isto deveria abundar em nosso meio, hoje tão estéril de ações
genuinamente piedosas.
Graça e Paz a todos!
Pr Luis Claudio
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