domingo, 4 de agosto de 2013


MUITO MAIS QUE UMA MOEDA PERDIDA- PARTE III

Hoje gostaria de retomar a leitura do evangelho lucano, mais precisamente o capítulo 15 que, como já vimos, trata da parábola da dracma perdida. E me chama atenção aqui o papel que essa parábola representa em relação às outras duas, que compõem juntamente com ela um tríptico. Refiro-me às parábolas da ovelha perdida e do filho pródigo.

Alinhado ao desejo de realizar uma leitura comparada dessa trilogia existencial, remeto-me ao texto como se estivesse diante de paisagens distintas. E, de certo modo, é assim que estamos. Primeiramente, vemo-nos um pastor vagueando na imensidão do deserto palestino à procura da ovelha desgarrada. Em seguida, o espaço é reduzido de tal forma que nos vemos agora confinados em uma casa. Por fim, o mundo parece ser o limite e acompanhamos a passos largos as andanças do filho que às apalpadelas em busca daquilo que nem ele sabe ao certo o que é.  

Os cenários que servem de palco ao pathos dramático daquelas personagens correspondem com o estado de suas almas. Um tema que perfaz as três parábolas, e que determina sua unidade narrativa, consiste em um sentimento de perda. E esta perda pode ser interpretada à luz dos lugares em que ela se dá.  

Toda perda ameaça desestabilizar nosso universo pessoal, pouco nos força a viver com um lado de nossa alma que permanece vazio. Por outro lado, a perda pode nos levar a desbravar outros horizontes que, por mais hostis que pareçam ser, podem proporcionar experiências ricas e maravilhosas.    

O pastor que perdeu a ovelha tem diante de si a extensão incomensurável do deserto. Sabe o que busca, mas não que rumo tomar; a esperança de encontrar é hostilizada pela grandeza do desafio e as dificuldades que sua busca representa. E com ele aprendemos que esperança sem determinação é preguiça.

A mulher parece estar diante de uma situação mais cômoda, pois o espaço de sua busca possui proporções infinitamente menores. E com ela aprendemos que a alegria não se mede pela extensão da jornada ou da grandeza do desafio, mas por um olhar mais intimista, que reconhece a importância daquilo que está próximo, perto de cada um.              

O quadro mais dramático do tríptico lucano é, certamente, o do filho pródigo. Sua perspectiva existencial é mais profunda que aquela encerrada nas figuras do pastor e da mulher. Isto porque, ao contrário daquilo que ocorreu nas outras duas parábolas, o drama vivido pelo filho pródigo decorre de suas próprias escolhas. Não há outra força operando no deslinde de sua história, senão sua própria vontade, o desejo arrebatador por uma vida dissoluta. Assim, sua escolha indevida e inconsequente torna a perda um processo que culmina em maturidade e experiência. E a terra longínqua onde vagueia errante só acentua a consistência daquele vínculo familiar que, por mais que tenha insistido, o jovem pródigo não pôde quebrar.

 

Graça e Paz a todos.

Pr. Luis Claudio        

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