MUITO MAIS QUE UMA MOEDA
PERDIDA- PARTE III
Hoje gostaria de retomar a
leitura do evangelho lucano, mais precisamente o capítulo 15 que, como já
vimos, trata da parábola da dracma perdida. E me chama atenção aqui o papel que
essa parábola representa em relação às outras duas, que compõem juntamente com ela
um tríptico. Refiro-me às parábolas da ovelha perdida e do filho pródigo.
Alinhado ao desejo de
realizar uma leitura comparada dessa trilogia existencial, remeto-me ao texto
como se estivesse diante de paisagens distintas. E, de certo modo, é assim que
estamos. Primeiramente, vemo-nos um pastor vagueando na imensidão do deserto
palestino à procura da ovelha desgarrada. Em seguida, o espaço é reduzido de
tal forma que nos vemos agora confinados em uma casa. Por fim, o mundo parece
ser o limite e acompanhamos a passos largos as andanças do filho que às
apalpadelas em busca daquilo que nem ele sabe ao certo o que é.
Os cenários que servem de
palco ao pathos dramático daquelas
personagens correspondem com o estado de suas almas. Um tema que perfaz as três
parábolas, e que determina sua unidade narrativa, consiste em um sentimento de
perda. E esta perda pode ser interpretada à luz dos lugares em que ela se dá.
Toda perda ameaça
desestabilizar nosso universo pessoal, pouco nos força a viver com um lado de
nossa alma que permanece vazio. Por outro lado, a perda pode nos levar a
desbravar outros horizontes que, por mais hostis que pareçam ser, podem proporcionar
experiências ricas e maravilhosas.
O pastor que perdeu a ovelha
tem diante de si a extensão incomensurável do deserto. Sabe o que busca, mas
não que rumo tomar; a esperança de encontrar é hostilizada pela grandeza do
desafio e as dificuldades que sua busca representa. E com ele aprendemos que
esperança sem determinação é preguiça.
A mulher parece estar diante
de uma situação mais cômoda, pois o espaço de sua busca possui proporções
infinitamente menores. E com ela aprendemos que a alegria não se mede pela
extensão da jornada ou da grandeza do desafio, mas por um olhar mais intimista,
que reconhece a importância daquilo que está próximo, perto de cada um.
O quadro mais dramático do
tríptico lucano é, certamente, o do filho pródigo. Sua perspectiva existencial
é mais profunda que aquela encerrada nas figuras do pastor e da mulher. Isto porque,
ao contrário daquilo que ocorreu nas outras duas parábolas, o drama vivido pelo
filho pródigo decorre de suas próprias escolhas. Não há outra força operando no
deslinde de sua história, senão sua própria vontade, o desejo arrebatador por
uma vida dissoluta. Assim, sua escolha indevida e inconsequente torna a perda
um processo que culmina em maturidade e experiência. E a terra longínqua onde
vagueia errante só acentua a consistência daquele vínculo familiar que, por
mais que tenha insistido, o jovem pródigo não pôde quebrar.
Graça e Paz a todos.
Pr. Luis Claudio
Nenhum comentário:
Postar um comentário