MUITO
MAIS QUE UMA MOEDA PERDIDA
Confesso
ter lido a parábola da dracma perdida inúmeras vezes. Entretanto, como não
poderia ser diferente, todas as vezes que releio um texto bíblico, sou surpreendido
por uma verdade nova que ali estava, mas que não havia ainda apreendido.
Ao lado
do episódio da ovelha perdida e do filho pródigo, a parábola da dracma perdida
compõe uma trilogia cujo tema que a une versa sobre “a alegria do reencontro”. Da
lavra fecunda do evangelista Lucas, a parábola que ora lemos fala de uma mulher
que, possuindo dez dracmas, perde uma no interior de sua casa (Lc 15. 8-10). Ela
então coloca-se à procura incessante até encontrar a moeda pedida.
Dentre
outros temas que o texto nos propõe, pus-me a refletir no esforço daquela mulher
empenhada por encontrar sua moeda perdida. Ora, não podemos comparar o labor
daquela mulher com o trabalho épico de um Hércules. Todavia, não podemos
ignorar a intensidade vívida experimentada pela senhora em questão. E se nos
debruçarmos um pouco mais sobre o episódio, veremos que para além de uma
atividade meramente doméstica, repousam experiências de profunda intensidade
existencial.
Muito
provavelmente a protagonista desta parábola era uma camponesa. Assim, entendemos
perfeitamente o esforço daquela mulher, quando nos damos conta de que a casa de
um camponês nos dias de Jesus era muito precária. Normalmente, este tipo de
residência possuía apenas um quarto, e sem janela ainda, o que acentuava a
penumbra do ambiente. Daí a necessidade da candeia, uma espécie de lamparina, com
a qual aquela mulher se serviu para iluminar seu aposento.
Iluminada
sua casa, a mulher agora passa a revirá-la canto a canto, até encontrar a moeda
perdida. Quantas gavetas aquela mulher não revirou até encontrar a moeda
perdida? E quanta história não se encontra perdida no recanto de uma gaveta
qualquer? Em uma gaveta podemos encontrar a foto esmaecida de alguém que tanto
amamos, e que não temos mais conosco. Em uma gaveta podemos encontrar um
bilhete que desnuda segredos e muda muita coisa dentro de nós. Em uma gaveta
podemos encontrar os bosquejos de um projeto abandonados por circunstâncias
mais diversas. Nesse sentido, a dracma perdida oferece-nos a oportunidade
talvez ímpar para retomarmos a caminhada.
Além
disso, a vassoura que percorre os cantos empoeirados de uma casa desenterra
também um passado. A poeira de uma casa é muito mais que terra pulverizada; ela
pode ser a saudade de uma doce lembrança.
São
ainda os fragmentos de uma vida, que vão compondo o mosaico de nossa
existência. Neste sentido, somos quase que tomados pelo sentimento de pequenez
absurda, quando nos damos conta que uma vida tão intensa e sincera resume-se em
papéis amarelecidos.
Mas
ao longo desta busca, temos a oportunidade de contrastar o presente com aquilo
que fomos. Talvez a chave do primeiro carro adquirido não passe de uma
antiquaria diante do veículo novo. Todavia, quantas viagens maravilhosas com
ele não fizemos um dia!
A
busca por uma dracma perdida, portanto, enseja a reflexão. Dada a profundidade
do tema, voltarei a falar sobre ele por esses dias.
Graça
e Paz a todos!
Pr.
Luis Claudio
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