domingo, 2 de junho de 2013


MUITO MAIS QUE UMA MOEDA PERDIDA

Confesso ter lido a parábola da dracma perdida inúmeras vezes. Entretanto, como não poderia ser diferente, todas as vezes que releio um texto bíblico, sou surpreendido por uma verdade nova que ali estava, mas que não havia ainda apreendido.

Ao lado do episódio da ovelha perdida e do filho pródigo, a parábola da dracma perdida compõe uma trilogia cujo tema que a une versa sobre “a alegria do reencontro”. Da lavra fecunda do evangelista Lucas, a parábola que ora lemos fala de uma mulher que, possuindo dez dracmas, perde uma no interior de sua casa (Lc 15. 8-10). Ela então coloca-se à procura incessante até encontrar a moeda pedida.    

Dentre outros temas que o texto nos propõe, pus-me a refletir no esforço daquela mulher empenhada por encontrar sua moeda perdida. Ora, não podemos comparar o labor daquela mulher com o trabalho épico de um Hércules. Todavia, não podemos ignorar a intensidade vívida experimentada pela senhora em questão. E se nos debruçarmos um pouco mais sobre o episódio, veremos que para além de uma atividade meramente doméstica, repousam experiências de profunda intensidade existencial.

Muito provavelmente a protagonista desta parábola era uma camponesa. Assim, entendemos perfeitamente o esforço daquela mulher, quando nos damos conta de que a casa de um camponês nos dias de Jesus era muito precária. Normalmente, este tipo de residência possuía apenas um quarto, e sem janela ainda, o que acentuava a penumbra do ambiente. Daí a necessidade da candeia, uma espécie de lamparina, com a qual aquela mulher se serviu para iluminar seu aposento.    

Iluminada sua casa, a mulher agora passa a revirá-la canto a canto, até encontrar a moeda perdida. Quantas gavetas aquela mulher não revirou até encontrar a moeda perdida? E quanta história não se encontra perdida no recanto de uma gaveta qualquer? Em uma gaveta podemos encontrar a foto esmaecida de alguém que tanto amamos, e que não temos mais conosco. Em uma gaveta podemos encontrar um bilhete que desnuda segredos e muda muita coisa dentro de nós. Em uma gaveta podemos encontrar os bosquejos de um projeto abandonados por circunstâncias mais diversas. Nesse sentido, a dracma perdida oferece-nos a oportunidade talvez ímpar para retomarmos a caminhada. 

Além disso, a vassoura que percorre os cantos empoeirados de uma casa desenterra também um passado. A poeira de uma casa é muito mais que terra pulverizada; ela pode ser a saudade de uma doce lembrança.

São ainda os fragmentos de uma vida, que vão compondo o mosaico de nossa existência. Neste sentido, somos quase que tomados pelo sentimento de pequenez absurda, quando nos damos conta que uma vida tão intensa e sincera resume-se em papéis amarelecidos.  

Mas ao longo desta busca, temos a oportunidade de contrastar o presente com aquilo que fomos. Talvez a chave do primeiro carro adquirido não passe de uma antiquaria diante do veículo novo. Todavia, quantas viagens maravilhosas com ele não fizemos um dia!

A busca por uma dracma perdida, portanto, enseja a reflexão. Dada a profundidade do tema, voltarei a falar sobre ele por esses dias.        

  

 

Graça e Paz a todos!

Pr. Luis Claudio

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