MALHAÇÃO
DO JUDAS OU DA GRAÇA GENUÍNA DE DEUS?
Neste
domingo de Páscoa, pus-me a refletir sobre um episódio que possui traços folclóricos,
mas que inverte uma belíssima história de perdão. Refiro-me à tradicional “Malhação
do Judas” que há muito é comemorada na Europa e na América Latina.
Meu interesse
pelo assunto renovou neste final de semana pascoal quando, por meio de um
noticiário, fui informado que em um bairro de Brasília, a figura de Judas foi
travestida na roupagem do Pastor e Deputado Federal Marcos Feliciano. Não quero
aqui entrar na polêmica que tem envolvido o parlamentar nos últimos dias. Porém,
inquieta-me o fato de que tal manifestação popular desfralda a bandeira do
cristianismo não tendo, incontestavelmente, nada com o sentido de sua fé e
mensagem. Para tanto, convido-lhes a fazer a leitura do Evangelho de Cristo
segundo escreveu João.
Em seu
capítulo de número 13, o Evangelho em tela dedica parte de seu texto à reação
dos discípulos, no momento em que Cristo anuncia que um deles haveria de lhe
trair. Diante da agitação causada por aquela revelação, João, inclinando-se
sobre o peito de Cristo, pergunta-lhe que o haveria de trair. O amado Redentor
responde por meio de um gesto terno e meigo: “É aquele a quem eu der o pão que
vou umedecer no molho” (Jo 13.26). Dito isto, entregou o pão revirado no molho
a Judas Iscariotes.
Não precisaríamos
de um esforço intelectual hercúleo para logo concluirmos que esta cena, de
narrativa muito simples, nada tem com a famosa “Malhação de Judas”. Ela consiste,
na verdade, em seu contrário mais gritante. Antes de vociferar contra o
traidor, ou incitar seus outros discípulos a um linchamento, Cristo reparte seu
pão com o insidioso discípulo.
Dessa
forma, não podemos negar que o sentimento que Cristo cultivou em relação a
Judas, ao invés de marcado por rancores e ressentimentos, é cheio de piedade e
amor. Ele mais do qualquer um de nós teria motivos de sobejo para “malhar Judas”.
Todavia, não foi essa a tônica dos últimos momentos que esteve ao lado daquele
discípulo.
É curioso
notarmos o quanto que manifestações como a da “Malhação de Judas” e tantas
outras distanciam-se do espírito da Páscoa cristã. Mais estanho ainda é saber
que elas são consideradas como cristãs, mesmo vazias de sua mensagem essencial:
amar ao próximo pouco importando quem seja este próximo. Por isso, não consigo
ver em manifestações como esta mais que desgraça humana, ao invés de graça de
Deus.
Graça
e Paz a todos.
Pr
Luis Claudio