domingo, 8 de dezembro de 2013


QUANDO DEIXAMOS DE OLHAR PARA O ALTO NOS APEQUENAMOS-PARTE I


Hoje me propus fazer a leitura do capítulo 32 do livro do Êxodo. Neste texto encontramos o lamentável episódio do culto ao bezerro de ouro, celebrado por Israel durante sua peregrinação rumo a Canaã. Para compreendê-lo melhor, é necessário que retomemos seu contexto.

Durante a estadia do povo hebreu no deserto do Sinai, Moisés subiu uma montanha onde se encontrou com Deus. No cume do monte, o grande legislador hebreu recebeu todos os elementos necessários para a formação da vida religiosa de seu povo. A ele foi entregue desde a maquete do Tabernáculo (a tenda onde Deus manifestaria sua presença) até o calendário religioso e, principalmente, a Lei.

Enquanto Deus tornava conhecida a futura liturgia judaica a Moisés, o povo esperava ao pé do monte a descida de seu pastor. Como não retornava, Israel logo deduziu que Moisés estivesse morto, que não mais voltaria. Convencidos disso, os hebreus inquietaram Arão para que lhes fizesse um deus que os conduzisse até a terra prometida.

Sem mostrar qualquer resistência àquele apelo, o irmão de Moisés recolheu todos os pendentes e bijuterias de ouro que entre o povo havia sido encontrado. Após fundir aqueles adornos, Arão lhes deu a forma de um boi, muito provavelmente uma réplica do deus egípcio Ápis, que provocou uma verdadeira celeuma no arraial hebreu. Certo de que aquela divindade poderia concretizar aquilo que Moisés e seu Deus não conseguiram, o povo irrompeu em celebração e alegria.

Ainda que de forma bastante tímida, o episódio ora analisado serve como referência aos descaminhos que uma religiosidade má intencionada pode nos conduzir. Esta atração que sentimos por uma divindade que represente fortuna e riqueza é milenar. E não precisamos recorrer à exegese para logo nos apercebermos o quanto que ela destoa da imagem que o Evangelho pinta acerca do Cristo.   

Vemos no episódio em tela o quanto que a sacralização do dinheiro, aqui metaforizado pelo ouro, desumaniza-nos. Ele representa nossa ruptura com o Deus que se nos mostra de forma personalizada. Que está próximo de nós, com quem o homem estabelece um diálogo, porque o conhece. O mesmo Deus que mais tarde se encarnará na figura do Cristo, assumindo nossa forma e tornando-se como um de nós, exceto na prática do pecado.

Não nos surpreende o desinteresse que a Igreja tem demonstrado pelo Deus que se revela na Cruz, no auge de seu desprendimento e desapego. Damos-lhe as costas por qualquer outra divindade que corresponda nossa ambição e avareza. E com isto nos distanciamos do Deus que se identifica com nossa humanidade, deformando-nos por meio de um culto que nos animaliza, já que está ligado às nossas inclinações mais vis.


Graça e Paz a todos!

Pr Luis Claudio