domingo, 22 de setembro de 2013


E ELE APARECEU A MARIA MADALENA!

 

Dentre outras testemunhas que contemplaram o Cristo ressurreto, encontramos uma mulher universalmente conhecida como Maria Madalena. Detalhes sobre este encontro podem ser lidos no Evangelho Segundo escreveu João (20.11-18). E quando me coloco a pensar nas razões que levaram Cristo a se manifestar a Maria Madalena, logo após sua Ressurreição, confesso ficar bastante intrigado. A escolha torna-se um pouco mais clara quando a contraponho às consequências que adviriam se Cristo manifestasse a outras figuras, e não àquela mulher.

Se partirmos da importância jurídica da Ressurreição, deveríamos supor que seria mais conveniente que Cristo se apresentasse a um advogado ou juiz romano. Todavia, talvez, este logo trataria de denunciá-lo novamente, uma vez que a Ressurreição não anularia, juridicamente, a pena que lhe fora imposta. O evento não exigiria uma revisão do processo, uma vez que ele não removeria o suposto crime de Cristo; mas quiçá apenas revelaria a ineficiência do instrumento utilizado para a execução da sentença.  

Se Cristo tivesse se manifestado a um médico legista, este logo afirmaria que, de fato, ele estava vivo. Entretanto, a hipótese da Ressurreição poderia ser facilmente substituída por um desmaio na cruz, e não a morte clínica do condenado. Um legista ligado aos interesses romanos ou sinedritas atestaria despudoradamente este parecer clínico. A consciência traída pode encontrar paliativo à sua culpa em atos que legitimem uma razão supostamente mais nobre.      

Se tivesse aparecido a Pôncio Pilatos, estaria instalado o caos político no império. E o evento deixaria de ser tratado na perspectiva da ordem espiritual para a ordem temporal. Logo procurariam torná-lo um novo césar colocando-o, por assim dizer, na mesma perspectiva dos reis deste mundo. Isto ele já havia rejeitado em Cafarnaum. De sorte que concorrer com os césares reduziria substancialmente sua grandeza, uma vez que seu desejo é ser acolhido em nossos corações, e não ascender aos nossos tronos.

Se Cristo tivesse manifestado-se ao Sumo Sacerdote, sua presença logo ameaçaria uma organização milenar em Israel. Isto porque não haveria necessidade em manter a ordem sacerdotal, haja visto o sacrifício perfeito e definitivo ter sido oferecido. A Ressurreição não se contenta apenas no confronto com instituições. O próprio tempo cuida em mostrar suas lacunas e a necessidade de renovação.

Cristo se mostra a uma mulher desarmada, que vai a ele com o despojamento de um discípulo; que se relacionaria com aquele evento na perspectiva da fé, e não de interesses alheios. Que não assimila aquele evento enquanto uma ameaça à ordem estabelecida. Antes, que reconhece nele o sentido mais profundo a apaziguar todo seu caos existencial.

Cristo se mostra a uma mulher que se convence da veracidade de seu encontro não por evidências científicas, mas pela intensidade vívida de sua realidade. Porque a ciência não apreende a totalidade de todas as coisas, mas apenas uma parcela ínfima delas. Alinha-se a esta constatação um dos mais célebres versos shakespearianos: “Há tanta coisa entre o Céu e a Terra que não compreende a nossa vã filosofia”.   

Cristo se mostra a uma mulher cujo anúncio da Ressurreição não será mais que o transbordar jubiloso e incontido da alma. Cristo mostra-se a Maria Madalena, pois sabe que aquela mulher não iria reduzir o maravilhoso a pressupostos racionais. Talvez Maria represente esta nossa humanidade que ainda se deleita naquele sentimento despertado frente ao maravilhoso. Que se lança aos pés de seu Cristo com aquela paixão que não balouça, ainda que pareça mais razoável, diante das conveniências que pretendem sufocá-la.

 

Graça e Paz a todos

Pr Luis Claudio