domingo, 21 de julho de 2013


MUITO MAIS QUA UMA MOEDA PERDIDA-PARTE II

Como havia dito há algumas semanas atrás, quero voltar à parábola lucana sobre a dracma perdida. Ao longo das leituras recentes que fiz sobre este texto (Lc 15. 8-13), pus-me a refletir acerca da busca daquela mulher sobre o que ela ainda teria a nos ensinar.

Pude aprender com aquela mulher que sua busca dista abissalmente da procura do homem pós-moderno por alguns aspectos. Primeiramente, logo nos damos conta que a busca encabeçada por aquela mulher é muito consciente. Isto porque ela sabe o que perdeu e por isso sua procura está envolta em uma lucidez que enche de sentido sua empreitada. O objeto que a leva a uma busca afinco lhe é bastante definido.

Daí depreendermos que seu gesto não parte de um vazio existencial cuja origem o homem desconhece e, por conta disso, corre a esmo buscando superar seu desespero. Assim sendo, o que procura torna sua faina extremamente objetiva, despojada daqueles subjetivismos nos quais se afirma um eu que é tão desfigurado quanto o esforço de sua urdidura inócua. 

O dramaturgo norueguês Henrik Ibsen compara sua personagem Peer Gynt a uma cebola, já que, por mais que seja descascada, nunca apresenta um centro. Gynt consiste em uma figura bastante representativa deste homem da pós-modernidade. Imerso neste universo de opções que descerram diante de seus olhos, o homem pós-moderno entrega-se quase que incondicionalmente à busca pelas diversas sensações que isto pode lhe ofertar. Entretanto, quanto mais se lança nesta experimentação mais vê dilacerar-se a alma em angústias que abatem seu ser. Com isto ele não consegue chegar ao centro de si de forma a orientar sua vida em torno daquilo que gera consistência.           

Em segundo lugar, chama-me a atenção o fato daquela mulher irromper em alegria diante do encontro de algo tão simples. Sua felicidade parece tão pobre diante das epopeias que nos são oferecidas constantemente. Em nada invejamos seu sorriso, uma vez que somos constantemente animados a grandes realizações e ambições portentosas. Com ela aprendemos que, talvez, nossa realização não esteja nestes projetos que nos fazem sentir verdadeiros super-homens. Ao contrário, a felicidade pode ser o inverso do Santo Graal que torna nossa vida uma verdadeira cruzada que, por fim, não nos levará a nada.

 

Graça e Paz, a todos
Pr. Luis Claudio