MUITO MAIS QUA UMA MOEDA
PERDIDA-PARTE II
Como havia dito há algumas
semanas atrás, quero voltar à parábola lucana sobre a dracma perdida. Ao longo
das leituras recentes que fiz sobre este texto (Lc 15. 8-13), pus-me a refletir
acerca da busca daquela mulher sobre o que ela ainda teria a nos ensinar.
Pude aprender com aquela
mulher que sua busca dista abissalmente da procura do homem pós-moderno por
alguns aspectos. Primeiramente, logo nos damos conta que a busca encabeçada por
aquela mulher é muito consciente. Isto porque ela sabe o que perdeu e por isso
sua procura está envolta em uma lucidez que enche de sentido sua empreitada. O objeto
que a leva a uma busca afinco lhe é bastante definido.
Daí depreendermos que seu
gesto não parte de um vazio existencial cuja origem o homem desconhece e, por
conta disso, corre a esmo buscando superar seu desespero. Assim sendo, o que
procura torna sua faina extremamente objetiva, despojada daqueles subjetivismos
nos quais se afirma um eu que é tão desfigurado quanto o esforço de sua
urdidura inócua.
O dramaturgo norueguês Henrik
Ibsen compara sua personagem Peer Gynt a uma cebola, já que, por mais que seja
descascada, nunca apresenta um centro. Gynt consiste em uma figura bastante
representativa deste homem da pós-modernidade. Imerso neste universo de opções
que descerram diante de seus olhos, o homem pós-moderno entrega-se quase que
incondicionalmente à busca pelas diversas sensações que isto pode lhe ofertar. Entretanto,
quanto mais se lança nesta experimentação mais vê dilacerar-se a alma em
angústias que abatem seu ser. Com isto ele não consegue chegar ao centro de si
de forma a orientar sua vida em torno daquilo que gera consistência.
Em segundo lugar, chama-me a
atenção o fato daquela mulher irromper em alegria diante do encontro de algo
tão simples. Sua felicidade parece tão pobre diante das epopeias que nos são
oferecidas constantemente. Em nada invejamos seu sorriso, uma vez que somos
constantemente animados a grandes realizações e ambições portentosas. Com ela
aprendemos que, talvez, nossa realização não esteja nestes projetos que nos fazem
sentir verdadeiros super-homens. Ao contrário, a felicidade pode ser o inverso
do Santo Graal que torna nossa vida uma verdadeira cruzada que, por fim, não nos
levará a nada.
Graça e Paz, a todos
Pr. Luis Claudio