ACEITAR
O PRÓPRIO PASSADO, SEM PERDER A ESPERANÇA DO NOVO
Há alguns
dias, enquanto removia meus livros, chamou-me a atenção uma obra intitulada O sentido da vida, escrita pelo bispo
católico Valfredo Telpe. Confesso que, num primeiro momento, desconfiei do livro
por conta de seu título. Não para menos, uma vez que já estou saturado dos
bordões inconsistentes das literaturas de auto-ajuda. Porém, logo às primeiras
páginas folheadas, dei-me conta de que estava diante de uma obra séria,
resultado de pesquisa bastante apurada. Li o livro praticamente “num tapa”, e
gostaria de compartilhar algumas coisas que muito me enriqueceram.
Logo
no primeiro capítulo do livro, Tepe faz-nos refletir acerca de nosso passado. Afirma
que todos os homens possuem seu “patrimônio histórico”, aquilo que vamos
construindo ao longo da vida. Este patrimônio pertence àquelas coisas sobre as
quais não possuímos mais nenhum domínio, já que não podemos alterá-lo em nada.
Ora,
se compararmos nossa vida com um livro, poderíamos dizer que nosso passado
pertence àquelas páginas já escritas, sobre as quais nenhuma vírgula pode ser
subtraída. Por conseguinte, de certa forma, somos autores de nossa própria
autobiografia. E uma vez que nossas realidades passadas não podem mais ser
alteradas, não nos resta outra opção senão aceitá-las.
Tepe
ilustra esta verdade absoluta a partir de um episódio bíblico envolvendo
Pilatos. Após ter sentenciado Cristo à morte, a procurador romano mandou um de
seus oficiais tecer uma plaqueta com a seguinte inscrição: “Jesus Nazareu, o
rei dos judeus” (Jo 19.19). Tal inscrição foi afixada na parte superior da cruz
de Cristo.
Tomando
aquilo como um insulto, as autoridades judaicas exigiram que Pilatos removesse
ou alterasse a inscrição. Diante do pedido que lhe fora feito, Pilatos vociferou:
“O que escrevi, escrevi” (Jo 19.22). A obra literária de Pilatos, “maravilhosa
em conteúdo e concisão”, permaneceu intocável, bem como sua participação
desastrosa no processo irregular de Cristo.
Porém,
não apenas Pilatos, mas todos nós já escrevemos, em nosso “livro da vida”,
algumas páginas sobre as quais nos envergonhamos. Na melhor das hipóteses,
algumas destas páginas foram compiladas com escolhas, atitudes, gestos e atitudes
que tantos dissabores nos trouxeram. Mas, o que está escrito, escrito
permanecerá.
Todavia,
a beleza em tudo isto consiste em saber que não estamos condicionados ao nosso
passado. Ainda que este permaneça intocável, não somos obrigados a escrever uma
nova página com as mesmas palavras. Temos hoje a oportunidade de escrever
coisas novas que, ainda que não suprimam aquilo que para trás ficou, podem
pincelas nossa autobiografia com experiências ricas e maravilhosas.
Mais
ainda, não nos esqueçamos da graça de Deus que, por mais ilógica que pareça,
rompe qualquer vínculo de causa e efeito possível. Assim um moribundo pendurado
em uma cruz, pagando por seus crimes, ainda pode vivenciar num cenário completamente
novo. Para tanto, basta olhar para o Cristo e, com ternura e arrependimento,
apelas para sua graça redentora. E assim o inferno de uma existência vazia e
chagada converter-se-á num céu de maravilhas e benesses.
Graça
e Paz a todos
Pr
Luis Claudio