sexta-feira, 18 de janeiro de 2013


ACEITAR O PRÓPRIO PASSADO, SEM PERDER A ESPERANÇA DO NOVO

Há alguns dias, enquanto removia meus livros, chamou-me a atenção uma obra intitulada O sentido da vida, escrita pelo bispo católico Valfredo Telpe. Confesso que, num primeiro momento, desconfiei do livro por conta de seu título. Não para menos, uma vez que já estou saturado dos bordões inconsistentes das literaturas de auto-ajuda. Porém, logo às primeiras páginas folheadas, dei-me conta de que estava diante de uma obra séria, resultado de pesquisa bastante apurada. Li o livro praticamente “num tapa”, e gostaria de compartilhar algumas coisas que muito me enriqueceram.

Logo no primeiro capítulo do livro, Tepe faz-nos refletir acerca de nosso passado. Afirma que todos os homens possuem seu “patrimônio histórico”, aquilo que vamos construindo ao longo da vida. Este patrimônio pertence àquelas coisas sobre as quais não possuímos mais nenhum domínio, já que não podemos alterá-lo em nada.

Ora, se compararmos nossa vida com um livro, poderíamos dizer que nosso passado pertence àquelas páginas já escritas, sobre as quais nenhuma vírgula pode ser subtraída. Por conseguinte, de certa forma, somos autores de nossa própria autobiografia. E uma vez que nossas realidades passadas não podem mais ser alteradas, não nos resta outra opção senão aceitá-las.

Tepe ilustra esta verdade absoluta a partir de um episódio bíblico envolvendo Pilatos. Após ter sentenciado Cristo à morte, a procurador romano mandou um de seus oficiais tecer uma plaqueta com a seguinte inscrição: “Jesus Nazareu, o rei dos judeus” (Jo 19.19). Tal inscrição foi afixada na parte superior da cruz de Cristo.

Tomando aquilo como um insulto, as autoridades judaicas exigiram que Pilatos removesse ou alterasse a inscrição. Diante do pedido que lhe fora feito, Pilatos vociferou: “O que escrevi, escrevi” (Jo 19.22). A obra literária de Pilatos, “maravilhosa em conteúdo e concisão”, permaneceu intocável, bem como sua participação desastrosa no processo irregular de Cristo.

Porém, não apenas Pilatos, mas todos nós já escrevemos, em nosso “livro da vida”, algumas páginas sobre as quais nos envergonhamos. Na melhor das hipóteses, algumas destas páginas foram compiladas com escolhas, atitudes, gestos e atitudes que tantos dissabores nos trouxeram. Mas, o que está escrito, escrito permanecerá.

Todavia, a beleza em tudo isto consiste em saber que não estamos condicionados ao nosso passado. Ainda que este permaneça intocável, não somos obrigados a escrever uma nova página com as mesmas palavras. Temos hoje a oportunidade de escrever coisas novas que, ainda que não suprimam aquilo que para trás ficou, podem pincelas nossa autobiografia com experiências ricas e maravilhosas.

Mais ainda, não nos esqueçamos da graça de Deus que, por mais ilógica que pareça, rompe qualquer vínculo de causa e efeito possível. Assim um moribundo pendurado em uma cruz, pagando por seus crimes, ainda pode vivenciar num cenário completamente novo. Para tanto, basta olhar para o Cristo e, com ternura e arrependimento, apelas para sua graça redentora. E assim o inferno de uma existência vazia e chagada converter-se-á num céu de maravilhas e benesses.

 

Graça e Paz a todos

 

Pr Luis Claudio